Estou em Buenos Aires, participando do seminário Anti-Máfia, promovido pela Câmara dos Deputados, com a presença da cúpula italiana da Direzione Nacional Anti-Máfia e Anti-terrorismo.
Em resumo, dizem os procuradores, que a Cosa Nostra e demais organizações criminosas evoluíram, porém sem perder suas raízes. Agora, menos que a violência e a chantagem, elas usariam de métodos mais sofisticados, infiltrando-se no mundo empresarial e mesmo multinacional e na política, em seus vários níveis. Citando Totto Rina, capo tutti capi, um procurador disse que ele considerava que, “não fossem nossas relações políticas, seríamos apenas um bando a mais”.
Com presença em vários países do mundo, a atual Máfia, ao lado da estrutura hierárquica de outrora, recruta uma vasta rede de profissionais liberais, empresários, agentes culturais e, claro, políticos, tornando difícil sua identificação. Daí a presente dificuldade de combatê-la e as suas ramificações.
No Brasil raramente se usa o termo Máfia para descrever os bandos existentes. Chamamo-los de quadrilha ou facções, espécies do gênero denominado organização criminosa. Estas, na atualidade, são mais de 70 e, à diferença da sua congénere italiana, foram todas geradas dentro do nosso sistema prisional e, de lá de dentro, comandam o tráfico de drogas e boa parte da violência cá fora.
Noves fora isso, assistimos uma crescente atividade econômica das facções, com aplicação dos excedentes financeiros gerados no crime em atividades como transporte urbano, postos de combustível, extração de minérios, jogos do azar, etc.
No plano da política, mais explicitamente no Rio de Janeiro, mas não apenas lá, o crime organizado constrói mandatos e, posteriormente, bancadas. Estas, dentro da lógica do presidencialismo de coalizão, indicam seus representantes para postos no poder público, inclusive nas forças de segurança.
Com certeza, se não forem combatidas e desarticuladas, as maiores já internacionalizadas, como o PCC e o Comando Vermelho, evoluirão para um estado paralelo, como já existe em alguns Estados e daí para o plano nacional, donde desafiarão diretamente o Estado e as instituições.
RAUL JUNGMANN – Ex-ministro da Defesa e da Segurança Pública.
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